COR LITÚRGICA: BRANCO
29ª Semana do Tempo Comum - Segunda-feira
Bom dia.
Evangelho (Lc 12,13-21)
—
O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho
de Jesus Cristo + segundo
Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 13alguém, do meio da multidão, disse a
Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”.
14Jesus
respondeu: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” 15E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado
contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a
vida de um homem não consiste na abundância de bens”.
16E
contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. 17Ele pensava consigo mesmo: ‘Que vou
fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. 18Então
resolveu: ‘Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir
maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. 19Então poderei dizer a mim mesmo: Meu
caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe,
aproveita!’ 20Mas
Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para
quem ficará o que tu acumulaste?’ 21Assim
acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de
Deus”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
PAI, PRESERVA-ME DO APEGO AOS BENS TERRENOS Lc
12,13-21
O episódio narrado no
evangelho de hoje só se encontra no Evangelho de Lucas e não tem paralelo nos
outros evangelhos. Ele faz parte da longa descrição da viagem de Jesus, desde a
Galileia até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), na qual Lucas colocou a maior parte
das informações que ele conseguiu coletar a respeito de Jesus e que não se
encontram nos outros três evangelhos (cf. Lc 1,2-3). O evangelho de hoje traz a
resposta de Jesus à pessoa que lhe pediu para ser mediador na repartição de uma
herança.
O que está por trás do
texto? Uma ideia do que está por trás do texto ajuda a entender a posição de
Jesus. No tempo de Jesus havia duas propostas de sociedade ou dois modelos
econômicos: o do campo e o da cidade. O do campo se fundamentava na partilha,
através da solidariedade, da troca de produtos, etc. Isso impedia que os
endividados caíssem na desgraça e que tivessem que emigrar para a cidade,
tornando-se mendigos ou bandidos. O modelo econômico da cidade, ao contrário, é
fundamentado na ganância, no acúmulo, na lei do mais forte. Isso naturalmente é
fonte de exclusão e marginalidade. Isso gera mendicância, violência, roubo,
etc. Sem dúvida o texto de hoje reflete uma situação do modelo econômico da
cidade e não do campo, reflete a ganância e a exploração, não a partilha. Jesus
toma posição em favor da partilha, não da cobiça, mas sem se colocar como
árbitro entre os que possuem riquezas.
Do meio da
multidão, alguém disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a
herança comigo.”
Ontem como hoje, a distribuição da herança entre os familiares sobreviventes é
sempre uma questão delicada e, muitas vezes, ocasião de brigas e tensões sem
fim. Naquele tempo, a herança tinha a ver também com a identidade das pessoas
(1Rs 21,1-3) e com a sua sobrevivência (Nm 27,1-11; 36,1-12). O problema maior
era a distribuição das terras entre os filhos do falecido pai. Sendo a família
grande, havia o perigo de a herança se esfacelar em pequenos pedaços de terra
que já não poderiam garantir a sobrevivência de todos. Por isso, para evitar o
esfacelamento ou desintegração da herança e manter vivo o nome da família, o
mais velho recebia o dobro dos outros filhos (Dt 21,17. cf. 2Rs 2,11).
Jesus
respondeu: “Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou dividir os bens
entre vocês?” Na resposta
de Jesus transparece a consciência que ele tinha da sua missão. Jesus não se
sente enviado por Deus para atender ao pedido de arbitrar entre os parentes que
brigam entre si por causa da repartição da herança. Mas o pedido do homem
despertou nele a missão de orientar as pessoas, pois “ele falou a
todos: Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que
alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens.”
Fazia parte da sua missão esclarecer as pessoas a respeito do sentido da vida.
O valor de uma vida não consiste em ter muitas coisas mas sim em ser rico para
Deus (Lc 12,21). Pois, quando a ganância toma conta do coração, não há como
repartir a herança com equidade e paz.
Em
seguida, Jesus conta uma parábola para ajudar as pessoas a refletir sobre o
sentido da vida: “A terra de
um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: O que vou fazer? Não
tenho onde guardar minha colheita.” O homem rico está totalmente
fechado dentro da preocupação com os seus bens que aumentaram de repente por
causa de uma colheita abundante. Ele só pensa em acumular para garantir uma
vida despreocupada. Ele diz: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e
construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os
meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom
estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!”
“Mas Deus lhe
disse: Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as
coisas que você preparou, para quem vão ficar?” A morte é uma chave importante para
redescobrir o sentido verdadeiro da vida. Ela relativiza tudo, pois mostra o
que perece e o que permanece. Quem só busca o ter e esquece o ser perde tudo na
hora da morte. Aqui transparece um pensamento muito frequente nos livros
sapienciais: para que acumular bens nesta vida, se você não sabe para quem vão
ficar os bens que você acumulou, nem sabe o que vai fazer o herdeiro com aquilo
que você deixou para ele? (Ecl 2,12.18-19.21)
“Assim acontece
com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus.” Como tornar-se rico para Deus?
Jesus deu várias sugestões e conselhos: quem quer ser o primeiro, seja o
último; é melhor dar que receber (At 20,35); o maior é o menor; preserva vida quem
perde a vida.
A
posição de Jesus está clara na sua exortação e na parábola que contou. Jesus é
contra qualquer cobiça, pois a cobiça não garante a vida de ninguém. A parábola
é um monólogo de um homem rico, ganancioso e egoísta, cujo ideal de vida é apenas
comer, beber e desfrutar. Este homem não pensa nos seus empregados, não pensa
nos pobres; é profundamente ganancioso e egoísta. Jesus chama-o de insensato, e
afirma sua morte naquela mesma noite. Isso significa que acumular bens não
garante a vida. O importante é ser rico para Deus, através da justiça, da
partilha e solidariedade para com o próximo, pois “quem se
compadece do pobre empresta a Deus” (Pr 19,17; Eclo 29,8-13). Eclo
29,12 diz expressamente: “Dê esmola
daquilo que você tem nos celeiros, e ela o livrará de qualquer desgraça.”
Pai,
preserva-me do apego exagerado às riquezas, as quais me tornam insensível às
necessidades do meu próximo. Que eu descubra na partilha um caminho de salvação.
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